quinta-feira, 10 de abril de 2014

Special one

Ontem estive a ver grande parte do jogo entre o Atlético de Madrid e o Barcelona, que marcou o apuramento da equipa de Madrid para as meias-finais da Liga dos Campeões, feito alcançado pela última vez há 40 anos.
A equipa "rojiblanca" continua a sua época de sonho, apesar de ainda não ter ganho nada...e poder nada ganhar.
Este novo ciclo parece estar alicerçado na capacidade do argentino Diego Simeone, o treinador que lidera este projecto.
Parece estar a tornar-se no "Special One". 
Sime One.

Se é verdade que os colchoneros têm um palmarés interessante nos seus 110 anos de história, nestas duas últimas épocas já arrecadaram uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia e uma Copa del Rey.
Este ano estão com um olho no título espanhol, num campeonato que lideram, e outro na Liga dos Campeões.
Tudo isto com um orçamento muito inferior aos seus rivais.
A questão do dinheiro nem sempre é consensual mesmo que, por norma, os que mais dinheiro têm, mais dinheiro e títulos açambarcam.
Falar de orçamentos não é fácil, pois nem sempre é líquido que os números apresentados correspondam à verdade.
Que o diga Miguel Sousa Tavares, que tem ao seu costado um processo interposto pelo seu clube de coração, por ter ousado colocar em causa o dinheiro pago por Ghilas.
Os números disponibilizados pelos responsáveis do Sporting apontam para um orçamento de 25 milhões de euros, tanto para a época em curso como para a próxima.
Presumo que esse valor não seja exclusivamente para a equipa de futebol, e se esta suspeita estiver correcta, são valores que são compatíveis com as medianas equipas espanholas, como se pode constatar pelo quadro em anexo.

O Atlético, tal como o vizinho Real, não tem a veia eclética patente no gigante da Catalunha, algo que se pode constatar nos "gastos de pessoal", onde se incluem as modalidades.
Os de Madrid tiveram tradição no andebol, mas até esse foi atropelado pelo futebol.
O Real tem no basquetebol um sorvedouro que retira alguns euros ao desporto-rei.
O Barcelona tem basquetebol, andebol, hóquei em patins e futsal, todos eles de altíssimo nível competitivo, e com reflexos no orçamento.
A coluna seguinte (primer equipo)  é a que corresponde à equipa profissional, e os dados são eloquentes.

O percurso da segunda equipa de Madrid faz acreditar que é realmente possível contrariar o estigma do orçamento.
Na época 2009/10 o Sporting defrontou o Atlético de Madrid nos 1/8 final da Liga Europa, que os espanhóis acabariam por vencer.
Empate 0-0 no Vicente Calderón, empate 2-2 em Alvalade, com a consequente eliminação pelos golos sofridos em casa.
Em momento algum sentimos ser inferiores.
Os colchoneros cimentaram o seu projecto para o futebol, como se pode constatar pela classificação.
Nono lugar em 2009/10, 7º no ano seguinte, 5º em 2011/12, 3º em 2012/13...e na presente época, 1º lugar.
O Sporting, nesse período, ainda dispunha de orçamentos simpáticos, mas a meia-final com o Ath. Bilbao na Liga Europa de 2012 (que seria novamente ganha pelo Atlético), somente serviu para camuflar a nossa crescente crise desportiva.

A equipa das margens do Manzanares parece ter encontrado o seu rumo, para seu bem e, até, do próprio futebol espanhol, atrofiado pela bipolarização Barça/Real.
Em Portugal também se viveu esse clima, mas todos desejamos um Sporting a intrometer-se efectivamente nesta luta, mesmo com um orçamento liliputiano.

Em determinado período da época 2013/14, os deuses pareciam estar loucos.
Sporting, Liverpool e Atlético de Madrid lideravam os respectivos campeonatos.
A equipa leonina ultrapassou as expectativas, mas não foi capaz de ultrapassar o campo minado pela arbitragem, e terá que esperar um ano mais para comemorar o seu 19º título. Assim, irá completar 12 anos a ver fugir o desejado troféu.
O histórico inglês também está ancorado nos 18 títulos, mas se o final da presente época não lhes sorrir, somará 24 anos a ver os outros a festejar.
Já os espanhóis têm 9 títulos, e terão que preservar a curta vantagem para voltar a celebrar, 18 anos depois.

Tenho é as minhas sérias dúvidas que seriam capazes de contornar terrenos minados, como os que por cá se multiplicam.
Acredito seriamente que o benfica não teria qualquer hipótese no campeonato espanhol, nem o Atlético no campeonato português.
Há questões extra-desportivas que ultrapassam plantéis e orçamentos.



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