sábado, 24 de novembro de 2012

Ler a sina

As previsões valem o que valem, venham elas da Maya, do Prof. Bambo ou de um especialista em estratégia e finanças.
A análise que a seguir publico, tornada pública no início destes mês de Novembro no site da APEFI, pode indignar alguns, deixar indiferente à maioria mas, por força dos mais recentes episódios da crise leonina, fará uns quantos meditar, nem que seja por um minuto.
É possível e espero...até ao desespero, que se engane rotundamente no negro quadro que é pintado.
No entanto, como cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém (é o que dizem) vou guardar nos próximos 15 anos (se por cá ainda andar) a leitura da sina do Sporting,  para poder comparar com a realidade que se for construindo.
 
 
"Tendo-me especializado nos últimos 15 anos em antecipação económica e social, sempre olhei o futebol, e o meu Sporting com o receio velado de que o que hoje se está a passar pudesse vir a acontecer. De alguma forma fui-me preparando psicologicamente para estes tempos tal como aconteceu em outras áreas da minha vida pessoal e profissional. Assim, escusei-me a fazer previsões públicas sobre o tema do futebol por receio de perder a objectividade necessária a analisar o assunto com a frieza de quem apenas observa. No entanto, a pedido de todos os que comigo privaram sobre estes assuntos, resolvi dar a minha previsão sobre o futuro do Sporting, do Benfica, do Porto e do futebol nacional e internacional em geral nos próximos 15 anos.  Peço desde já desculpa pela falta de isenção que demonstro em algumas afirmações, mas sei que não afecta a objectividade da previsão, apenas afecta a paixão com que o posso dizer.
Pode não agradar a muita gente, inclusivamente a mim próprio, mas é a minha opinião técnica, de quem está habituado a antecipar acontecimentos futuros por razões profissionais. O futuro é o futuro, goste-se dele ou não. Apesar de arriscado decidi dar datas por estar habituado a elas na antecipação social e política que faço. Devem ser tomadas como guias apenas.
Por isso, nas próximas linhas que fique o clubismo de lado ( ou nem por isso).
Competições:
No meio desta crise europeia vai ser inevitável mudar tudo quer na Liga dos Campeões quer nas próprias regras. As ligas nacionais irão perder peso e em substituição irão ser alargadas as ligas europeias. Provavelmente teremos uma Liga dos Campeões como o Barcelona quer, com 64 equipas, com menos dinheiro para os prémios de participação mas mais dinheiro para os prémios de vitória. Assim se vai combater a crise com mais espectáculos para patrocinar ao mesmo tempo que os grandes clubes amealham mais euros devido às vitórias contra as equipas mais fracas. Acredito que em vez de se aumentarem o número de grupos se poderá aumentar de 4 para 5 ou 6 equipas por grupo.
As ligas nacionais perderão importância e serão quase todas reduzidas, para dar lugar a uma competição de elite europeia mais abrangente. Ganhar o campeonato nacional passará a ser secundário em termos financeiros relativamente ao apuramento para a 2ª fase dessa nova competição. Cada vitória será uma vitória desportiva e financeira.
Com a crise no sector publicitário, teremos um regresso às emissões em canal aberto pois só assim se conseguem audiências suficientes para manter o nível de encaixe financeiro actual. Veremos inicialmente uma tendência no sentido inverso mas que será Sol de muito pouca dura, tal como está a acontecer este ano no nosso campeonato.
Os estádios ficarão inicialmente mais vazios até ao ponto de ruptura, que mudará quando os grandes clubes impuserem regras financeiras apertadas (como um tecto salarial ou de transferências). Os preços descerão muito, assim como as comodidades para os adeptos. Será quando a crise financeira passará a funcionar novamente em favor da ida ao estádio e encherá novamente os eventos desportivos. No entanto, ir ao estádio deixará novamente de ser um programa familiar para se concentrar na juventude.
Aparecerão novos clubes grandes europeus, vindos de Moscovo, São Petersburgo, Istambul, Baku e Kiev. Estes novos grandes gradualmente substituirão os grandes de Manchester, Porto, Milão, Barcelona, Lyon e Bordéus. Reforçar-se-ão a nível nacional os clubes de Londres, Berlim,  Munique, Paris, Roma, Madrid e Lisboa.
Os clubes tradicionalmente industriais como o Manchester e o Porto, sofrerão muito com a crise beneficiando novamente cerca de 5 a 10 anos após o início da retoma.
FC Porto:
Infelizmente para os portistas, o reinado do dragão está a chegar ao fim. Não vai acabar já, mas vai acabando. Continuarão a ganhar campeonatos mas com menor regularidade. Existe uma vaga de fundo europeia, que por razões económicas está a penalizar as equipas que não sejam dos grandes aglomerados populacionais. O Porto, tal como o Manchester, PSV Eidhoven, Lyon, etc faz parte de um grupo de clubes que cresceram em torno de uma zona industrial poderosíssima. Com a crise industrial que atravessamos haverá mais assuntos com que se preocupar e haverá menos disponibilidade para investir no clube da região. Isto sempre assim aconteceu. Em contrapartida crescerão os clubes dos grandes centros populacionais que até agora eram relativamente pouco “subsidiados” por estas regiões se basearem no sector dos serviços e não na identidade industrial. Vemos agora a reaparecerem os clubes destes centros como o Arsenal, o Chelsea, o Bayern, o Ajax e obviamente o PSG. O futuro dos grandes clubes europeus pertence aos localizados em mega complexos populacionais e financeiros, não mais cidades industriais ao estilo de Manchester. Prevejo uma crise financeira no FC Porto algures nos próximos 5 anos talvez antes, fruto da falta de suporte financeiro regional e da redução brutal que o mercado futebolístico de transferências vai sofrer em breve. Dependendo do que se passar com o Sporting, esta crise poderá mesmo ser o fim do clube como o conhecemos, pois acontecerá num momento crítico da economia nacional e sem grande capacidade para regionalismos, pois a prioridade maior será o pão à mesa das famílias.
Benfica:
Os próximos 15 anos deverão ser excelentes para o Benfica, pois tudo joga a seu favor. Na Europa os clubes que melhor enfrentarão esta crise serão os baseados nos mega centros populacionais, nos quais Lisboa se enquandra bem melhor que o Porto. Em Portugal, sempre que um meio de comunicação desportivo novo aparece, muda o sistema em vigor. Foi assim com a Bola (1945, começa hegemonia do Sporting), com a RTP a iniciar emissões de futebol (1957, começa hegemonia do Benfica) e com o Jogo e Olivedesportos (1984 e 1985 que dá início ao período de alternância Porto/Benfica) e Sportv (1991 dá hegemonia completa ao FC Porto). Hoje em dia a BenficaTV representa tanta revolução quanto a causada pelos exemplos anteriores, sobretudo quando desafia o status quo da Olivedesportos. Sente-se no ar a onda de alternância vivida a partir de 1985 e por isso o Benfica deverá começar a conquistar mais regularmente campeonatos até obter hegemonia dentro de 5 a 7 anos. Além disso, as pisadas de Luís Felipe Vieira são muito semelhantes às de Pinto da Costa, pelo que teremos finalmente o chamado Benfica à Porto dentro em breve. O Benfica terá também a sua crise financeira à porta, mas a nova ordem instaurada pela BenficaTV e outros media capitalizará o sentimento do benfiquismo e deverá com isso trazer recursos financeiros preciosos. O desígnio benfiquista será nacional enquanto que o portista será regional, pelo que é óbvia a escolha política de salvamento quando chegar esse momento.
Sporting:
O momento de decisão será no próximo ano. As dívidas do clube nunca serão pagas, fruto do encolhimento das receitas devido à crise. Por mais reestruturações que se faça, o Sporting será o espelho do país a nível financeiro. A dívida nunca é para pagar. Isto trará consigo um problema que é o de manter um clube baseado numa ideia de grandeza que nunca se compatibilizará com as finanças do clube. A pressão dos sócios apenas antecipará o momento da verdade que eu prevejo ser entre 2013 e 2014.
Caso nada de radical se faça, chegará a época de 2014/2015 com um orçamento reduzido e com objectivos de alcançar a Liga Europa. Isto marcará um declínio relativamente rápido até à mediocrização total do clube. A sua base de apoio reduzir-se-á lentamente, com a desmotivação da maior parte dos adeptos, quer seja pelos resultados quer seja pelas próprias circunstâncias da vida neste crise. Os resultados do Sporting serão fácil desculpa para se relegar a ida ao estádio e outras actividades relacionadas com o clube como superfluas. Dentro de 15 anos a base de apoio do Sporting deverá reduzir-se em cerca de 50%, tornando inviável o clube como um dos grandes.
A outra solução, eu diria mesmo, a solução ideal seria a adoptada já pela Fiorentina e pelo Rangers, ou seja a falência e refundação imediatas do clube. Isto abalaria a base de sócios e de adeptos mas como seria tomada de imediato esta perda não ultrapassaria os 5 a 10%. Nos escalões inferiores seria fácil a subida pois a massa crítica sportinguista continuaria a apoiar o clube tornando-o grande demais para não subir. O Sporting deixaria de se preocupar com os seus activos, que hoje são grandes dores de cabeça como o estádio e outras infraestruturas. Alugaria estes mesmos espaços a preços ridículos pois são espaços que não teriam hipótese de ser aproveitados de outra forma, outra das “vantagens” de vivermos em crise. Continuaria quase do mesmo modo, contudo não teria dívidas. Seria de esperar que em 3 a 4 anos o Sporting estaria em condições de lutar pela Europa novamente ( a Fiorentina levou apenas 3 anos a subir 5 divisões) e apareceria na 1ª Liga em força quando a crise financeira global estivesse no seu auge, cerca de 2018/2019. Nesta altura os clubes rivais Porto e Benfica terão as suas crises financeiras, embora não tão graves quanto a do Sporting, mas o Sporting estaria livre de encargos e com a massa adepta galvanizada novamente. Teria então francas possibilidades de ser o clube mais rentável das ligas nacionais, à semelhança da Fiorentina que depois de declarar insolvência é hoje o clube mais rentável da liga italiana.
Este último cenário é o mais temido por parte das estruturas do Porto e Benfica. De facto, a crise do Sporting dá muito jeito a estes clubes para que num futuro próximo possam dividir as receitas do futebol, que estão em franco declínio apenas por 2 em vez de 3, repartindo assim os recursos por Olivedesportos e BenficaTV. Mesmo que seja a Liga a concentrar estes recursos, será mais rentável dividi-los por 2 clubes apenas. Isto significa que interessa e muito aos clubes rivais que o Sporting se mantenha em crise mas que não acabe.
No entanto, quando se fala em insolvência e refundação estes falsos amigos em uníssono dizem não. Todos se tornam amáveis e inspiradores para que o Sporting não necessite de declarar insolvência. Claro está o porquê de tanta amizade, é que a crise vai chegar-lhes também e não interessa nada ter um rival livre do maior problema que afecta os clubes, a dívida.
Falei atrás do futuro do FC Porto ligado ao que acontecerá com o Sporting. Caso se opte pela insolvência, é possível que o Porto venha a passar um péssimo momento dentro de 5 a 7 anos. Caso se opte por definhar indefinidamente, as receitas pertencentes ao Sporting serão transferidas pela lei de mercado televisivo e publicitário para suportar Porto e Benfica, tendo o Porto muito mais a ganhar com isso.
É necessária coragem mas sobretudo visão. Não é preciso inventar nada pois lá fora já se trilhou este caminho. A Fiorentina é um excelente exemplo. Descer temporariamente aos escalões inferiores não é assim tão dramático como demonstraram as experiências da Juventus e do River Plate. Este crise está ainda no final do seu primeiro terço. Ainda falta acontecer muita coisa para que se possa dizer que já batemos no fundo. As ondas de mudança estão aí, resta saber se o Sporting quer tentar pará-las ou aprender a surfá-las."


Retirado de:
http://apefi.eu/?p=561

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