Uma cambada de cínicos

Sporting 3 Fiorentina 0

Foi com uma inesperada vitória folgada que o Sporting encerrou a pré-época e se prepara para iniciar o campeonato nacional.

Claro está que os adeptos leoninos esperam sempre o melhor da equipa, mesmo que ainda estejamos em período de descompressão, depois do longo mergulho que demos a época passada.

O jogo que decidia o vencedor do Troféu Cinco Violinos encerrava alguma dificuldade, logo à partida pela valia da equipa adversária, 4ª classificada no último campeonato, e que se tem reforçado com jogadores de inegável qualidade.

Também o facto do Sporting vir de duas derrotas consecutivas, para o Torneio do Guadiana, poderia retirar alguma tranquilidade que a equipa foi conseguindo no decurso da pré-época.

Por tudo isto, e pelo curto período de trabalho de um plantel ainda em fase de assimilação de novos processos, não seria expectável um resultado tão robusto.

Contudo, o que contribuiu para o pesado resultado teve mais a ver com uma inversão de papéis.

Os italianos, habituados a jogar mais no erro do adversário, foram apanhados desprevenidos com a entrada de leão do Sporting, que marcou cedo e ainda poderia ter ampliado a vantagem.

A partir de meio da primeira parte, tomaram conta do jogo...e só a espaços permitiram ao Sporting efectuar mais que meia dúzia de passes encadeados.

O que me pareceu ver foi um Sporting pragmático e a tentar controlar o domínio adversário.

O que acabou por acontecer foi o Sporting ter conseguido aliar ao pragmatismo, o habitual cinismo da equipas italianas.

E que bem sabe estar na retranca e, contra a corrente do jogo, espetar dois golos no adversário.

É isso que nos costuma acontecer...é neste tipo de futebol que os italianos se sentem como peixe na água.

Soube-me que nem ginjas ver o Sporting vencer por 3-0, um jogo que poderia ter acabado 6-6.

Como estou farto de vitórias morais, quero passar a ver vitórias imorais.

Claro está que não houve só demérito dos italianos, pois os jogadores do Sporting contribuíram, em larga medida, para este desfecho.

Uma vez mais não quero tocar em assuntos sensíveis, num momento em que é necessária a congregação de esforços e vontades em prol do plantel, e por isso não vou fazer apreciações individuais.

Se houve jogadores que estiveram em muito bom nível outros houve que demonstraram alguma fragilidade, mas vou esperar que o tempo e o trabalho lime essas arestas.

Caso tal não aconteça, temos então que esperar que Leonardo Jardim tome as decisões mais acertadas, mesmo que possa ferir algumas sensibilidades.

O que de facto me preocupa, tal como em anteriores jogos, e de acordo com o que escrevi na altura, é a incapacidade para gerir os tempos de jogo e a posse de bola, mesmo jogando perante os nossos adeptos.

O meio-campo continua a parecer-me tímido, e em virtude da falta de linhas de passe, foram inúmeros os pontapés sem nexo dos defesas, para contornar o pressing adversário.

A qualidade da equipa adversária não explica tudo, pois já nos aconteceu com o West Ham, durante quase todo o jogo, e largos períodos contra a Real Sociedad.

Agora que vamos regressar ao futebol de consumo interno, espero ver um Sporting mais dominador, com os automatismos aos poucos a ser consolidados, e que o futebol ofensivo ganhe uma maior consistência.

Acabaram as experiências, e também irá terminar a compreensão e paciência de muitos adeptos, perante resultados que não estejam à altura do nosso estatuto.

Espero que o Sporting comece o campeonato com pé direito, com o pé esquerdo, com a cabeça...com o que seja, mas que comece sob o signo da vitória.

Se não puder ser praticando um futebol vistoso, que seja com o cinismo italiano.