Era eu uma criança
quando vi numa enciclopédia a fotografia de uma miragem.
Fiquei
algo perplexo porque pensei, na minha santa inocência, que um fenómeno desta
estirpe não fosse possível captar com uma máquina fotográfica.
Claro
está que eu, como muitos, confundi miragem com alucinação, talvez pelo hábito que
tinha de ver desenhos animados onde os personagens lutavam para alcançar maravilhosos
oásis no deserto que, chegados lá, não correspondiam à realidade.
Quando
tentei explicar que a miragem é um fenómeno óptico, potenciado por determinadas
condições atmosféricas, nem sempre fui compreendido, por pessoas com as mais
variadas idades e graus académicos.
Existe
até um fenómeno que ocorre sazonalmente no meu Algarve, perfeitamente visível
nas praias durante o Verão, que foi confundido com uma onda gigante no ano de
1999 e que provocou o pânico generalizado na região, enquanto eu me deliciava
nas cálidas e tranquilas águas pois o fenómeno observável era, unicamente, a
tal miragem que ocorre todos os anos.
Mas
não é só no Algarve que se dão fenómenos ópticos.
Em
Arouca, no último Domingo, ocorreu uma miragem que iludiu a maioria dos
observadores, e que os levou a considerar que tinha havido uma grande
penalidade cometida por Jonathan Silva que não foi assinalada, e que essa
infracção ainda lhe valeria o cartão vermelho, por acumulação de amarelos.
Esta
miragem não me apanhou de surpresa, habituado que estou a fenómenos análogos.
Logo
na primeira repetição vi perfeitamente que o jogador argentino cortou a bola de
forma limpa, mas a minha estranheza foi com a repetida ideia dos jornalistas em
afirmar que o defesa tinha derrubado o jogador belga do Arouca.
Os
comentadores de serviço focaram a sua atenção numa determinada zona da anatomia
do defesa sportinguista, e esqueceram-se de tudo o resto.
No
entanto, a reincidência em comentários absurdos, que já vem de jogos
anteriores, fez-me reduzir drasticamente o volume do canal televisivo e
desfrutar das incidências do jogo.
Terminado
este, fui saber das opiniões dos entendidos.
Comecei
logo por ouvir Costinha, o nosso ex-jogador e ex-director, a afirmar a uma
rádio que tinha ficado por marcar uma grande penalidade (e consequente
vermelho) para o defesa leonino.
Depois
ouvi Pedro Sousa, outro sportinguista convicto, fazer a mesma observação do
lance, a um canal de televisão.
Outros
houve que repetiram o diagnóstico, a juntar as suas às vozes de todos os
adeptos de clubes que têm beneficiado de sucessivos erros arbitrais e que estão
desejosos de que o Sporting também veja o seu nome manchado no presente
campeonato.
Perante
tanta unanimidade pensei que, afinal, o fenómeno que me afectou foi uma
alucinação (distorção da percepção da realidade) e não uma simples
miragem, que pode confundir qualquer um.
A
imagem não me sai da retina, e continuo a ver Jonathan Silva a cortar o lance
de forma limpa, apesar do pé que fica para trás acabe por tocar no avançado
emprestado pelo porto aos arouquenses.
Parece-me
que tenho que consultar um especialista.
A
não ser que seja como em 1999. Aquela malta toda a fugir da praia, em histeria
colectiva, também toda ela viu o mesmo, e até os meios de comunicação social se
juntaram à festa e relataram o acontecimento.
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