domingo, 21 de dezembro de 2014

Equidistante

Confesso que estou desanimado.

Dificilmente conseguiria imaginar que, ultrapassado o período mais negro da história do Sporting, atingisse tão rapidamente este estado de saturação.
Esse período que levou o clube a um estado de falência iminente.
A um futebol profissional com a sua pior classificação de sempre, a culminar anos de péssima gestão desportiva e financeira.
A um andebol que coleccionou alguns triunfos, mas que viu o rival a norte cimentar a sua ditadura no campeonato.
A um atletismo em nítido desinvestimento e com um tal atraso na formação que indicia que na próxima década, no sector masculino, assistiremos a um passeio dos eternos rivais nas pistas.
A um ténis de mesa que dificilmente consegue competir com os orçamentos açorianos, após décadas de absolutismo nas mesas deste país.
Neste estado quase calamitoso, mesmo que pontuado com algumas fugazes vitórias destas e de outras modalidades, o futsal foi o único que pareceu renascer das cinzas, e voltar a reclamar a sua posição de líder da modalidade.

O paradigma pareceu mudar com o ansiado acto eleitoral, mas as clivagens que existiam entre os adeptos não se eclipsaram, e têm demonstrado que a crise do Sporting é muito mais profunda do que alguns resultados podem sugerir.

As redes sociais e os blogues têm servido para uma luta fratricida sem paralelo.
O atrito constante faz-me mais temer pelo futuro do que por causa da bola que vai ao poste e não entra. A intransigência de uns e outros, entre aqueles que são o maior património do Sporting, pode ter consequências imprevisíveis.
Numa altura em que tanto se fala da Santa Aliança, nessa coligação de interesses que visa que o habitual pódio tenha apenas dois níveis, os sportinguistas digladiam-se numa Santa Desavença. Se este comportamento autofágico persistir, os rivais podem deixar de tentar contrariar o destino.

Claro está que todos nós queremos o melhor para o clube, mas a forma como por vezes o demonstramos é que não parece servir esses interesses.
Se por vezes me indigno com o que leio na imprensa, no ataque cerrado e constante ao nosso clube, tenho alguma dificuldade em compreender que alguns sportinguistas se associem a alguma canalhice.
Por vezes fico sem saber se são alguns adeptos que vão na cantilena dos jornais, ou se são estes que fazem a vontade aos adeptos.
A nossa formação, por exemplo.
É uma das meninas dos nossos olhos. Todos se mostram preocupados com os resultados mais recentes, mesmo que estes devam ser relativizados.
O problema é que nos habituámos a valorizar algumas dessas vitórias, à falta das conquistas onde elas de facto são importantes. Quando o que realmente deve sobressair desse trabalho é o aproveitamento que se faz desse longo e aturado percurso.
A equipa B tem sido um dos alvos a abater. Pelos resultados, pelos atletas que compõem o plantel e pelo sinuoso percurso da equipa técnica.
Tudo tem sido amplamente escrutinado e exponenciado pelos adeptos e pelos media, ou vice-versa.
No entanto, a equipa encontra-se a 3 pontos do benfica, (que interrompeu uma série de 5 jogos sem vencer) e em igualdade com o porto.
Talvez se tivéssemos feito inúmeros jogos em superioridade numérica, ou com decisões no mínimo controversas, como tem acontecido também neste campeonato, pudéssemos estar um pouco mais acima. (Hoje voltámos a ver um jogador expulso, enquanto o porto jogou meia parte contra 10).
Não me recordo de ter visto algum jornal espiolhar as equipas B dos nossos rivais, e colocado em causa todo e cada um dos atletas que, rotulados de estrelas, passeiam a sua classe pelos campos da II Liga.

Já a equipa júnior parece ser o elo mais fraco, sem que isso possa significar que tudo esteja mal, se pensar no objectivo fundamental do processo formativo.
Posso, por exemplo, ir à época 2009/10 e comparar o plantel da equipa do porto, que se sagrou campeã nacional de sub17, com a do Sporting.
Será fácil concluir que a esmagadora maioria dos que celebraram um título nacional, para gáudio dos seus adeptos, não singraram no pontapé na bola. Apenas Tozé (emprestado ao Estoril) e Agu (equipa B), têm vínculo com os dragões. Todos os outros desapareceram do radar portista. A contrastar mais uma fornada portista que fazem carreira em clubes como o Sousense, Fátima ou S.João Ver, estão alguns atletas leoninos que, não tendo vencido esse campeonato, mostram outras credenciais e qualidade.
Admito que sou um pessimista inveterado, mas consigo…ou tento encontrar motivos para contrariar o terrível destino que parece estar reservado.
Procuro números e factos que sustentem esta esperança.
























Mas esta luta sem quartel parece não poupar ninguém.
Há uma enorme dificuldade em admitir os méritos que possam existir, estejam eles onde estiverem.
Tudo é exponenciado pela negativa, ou cirurgicamente omitido.

Estou de facto cansado, e mais fico ao ler comunicados desajustados que ainda ajudam a extremar-se posições interna e externamente.
O Sporting precisa de um pouco de paz, e para que esse equilíbrio aconteça é necessário que haja contenção de todas as partes.
Isto não irá acontecer (como mero exemplo) divulgando na véspera de uma competição um comunicado a colocar em causa o local escolhido há largos meses.
Criará anticorpos nas instâncias federativas, nos clubes envolvidos e nos adeptos imparciais ou parcialmente em litígio com este Conselho Directivo.
Quando a equipa de andebol jogou em Tavira não foi colocada em causa  a equidistância dos emblemas participantes.

Definitivamente, parece estar a existir equidistância de “muitos de nós” relativamente ao Sporting, o fulcro da questão e que deveria servir para “nos” aproximar.

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