Quem
teve o azar de abrir desportivamente os olhos nas últimas três décadas, pôde
assistir a um deboche sem paralelo.
A
vergonha que acontecia nos campos de futebol deste singelo país, sustentado em
encomendas, reuniões, telefonemas, encontros em casa de dirigentes,
restaurantes, num ou outro bordel ou até num qualquer hotel transformado em
prostíbulo, parecia ter os seus dias contados.
Durante
todo esse tempo acreditámos que o futebol estava manietado por um polvo de
dimensões descomunais, e foram precisas apenas umas semanas de provas para
mostrar que a ponta do iceberg era suficientemente grande para ficar à vista de
todos.
A
teia, que sempre pareceu bem urdida, tinha afinal pontas soltas, só que a
justiça também demonstrou a sua pior face.
O
crime compensou, mas acreditou-se que, finalmente, poderíamos ter um futebol mais
limpo, mesmo que saltasse à evidência que partilhamos genes italianos, como o
comprovam casos como Totonero, Calciocaos ou Calcioscommess.
Lá,
os telefonemas provaram que Luciano Moggi mandava, decidia, dava ordens: todo o
mundo obedecia e esperava os seus presentinhos, a sua gratidão.
A justiça agiu em Itália mas, em Portugal, os tribunais nada quiseram
provar.
Contudo,
se o Moggi português pareceu perder alguma influência, outros quiseram
seguir-lhe os passos, pois só assim haveria garantias de sucesso.
Por
isso, julgo eu, é que continuamos com aquela sensação sufocante de estarmos
enredados numa pegajosa teia.
Mas
se até há uns anos atrás apenas se ouvia falar de “quinhentinhos”, de Canal
Caveira, de pagamentos em locais ermos, de promoções ou despromoções de
árbitros e equipas, o jogo de hoje parece bem mais complexo e abrangente.
As
alianças entre eternos inimigos, a submissão da esmagadora maioria, a tomada de
assalto da Liga, os lóbis, os milhões da Champions, a eliminação de um dos
grandes ou o maquiavélico conluio pelos direitos televisivos são maquinações de
difícil interpretação e análise para um observador leigo.
É
verdade que temos ficado chocados com o desplante com que na presente época se
tem levado um dos patrocinadores da Liga ao colo. Os sucessivos erros em seu
proveito são a parte mais visível do novo paradigma, mas o que me preocupa
verdadeiramente é o que pode estar em banho-maria.
Tem
sido anunciado e sucessivamente desmentido que a intenção de porto e benfica,
benfica e porto…seja o estrangulamento do Sporting, pois o mercado não abarca
três clubes grandes.
Com
as torneiras dos bancos a pingar a conta-gotas, com patrocinadores em
debandada, com os estádios cada vez mais vazios mas, em contrapartida, com
vícios cada vez maiores, os clubes que rivalizam com o Sporting vêem no clube
leonino uma pedra na engrenagem.
A
edição deste fim-de-semana do Expresso aborda precisamente a questão das
receitas televisivas, e da qual reproduzo uns excertos:
“…benfica e porto defendem que os clubes
mais representativos de cada região são os que devem receber mais.
Propõem um modelo de centralização baseado
na notoriedade e na percepção do clube.
O futebol português seria dividido por
regiões e os dinheiros distribuídos por ordem de importância: número de adeptos
e força social na dita zona. Obviamente há dois beneficiados. Porto, o emblema
mais representativo no litoral norte, e benfica o mais poderoso na grande
lisboa. (Entre portas, na luz, há quem diga que o mercado português é pequeno para
os 3 grandes e que afastar Alvalade das decisões beneficiaria o futebol).
Este modelo, a ser implementado, só poderá
ser exequível a partir de 2018, ano em que cessam todos os contratos da Olivedesportos
com os clubes.
A centralização dos direitos televisivos
foi umas as bandeiras de Mário Figueiredo, que deixou de o ser quando benfica e
porto tomaram as rédeas.
A direcção de Mário Figueiredo propôs o
seguinte modelo: do total de 140 milhões, 35% seria distribuído em partes iguais,
25 % pela classificação da época anterior, 10% mediante a classificação das
últimas 5 épocas, 5% pela classificação desde 1934/35, 15% pelo número de
títulos e 10% pelo número de presenças.
Nestas contas, o benfica receberia 17 milhões
e Penafiel (último) receberia 4 milhões.
A diferença do actual modelo passaria de 1
para 8 para 1 para 4. Porto e benfica não gostaram e partiram para outra
realidade.”
Parece ser óbvio que os nossos rivais terão ficado muito incomodados com propostas que lhes asfixiassem a gula.
Também consultando o Expresso, ficamos a saber como são distribuídos os milhões da Tv nos campeonatos mais competitivos e mediáticos.
Alemanha - Pela última classificação e pelas últimas 5 épocas.
França - 50% a distribuir por todos os 20 clubes, 20% pela audiência 30% pelo desempenho desportivo.
Inglaterra - 50% a distribuir por todos, 25 % pela classificação em que acabam a época 25% pelo número de vezes que um clube passa na TV.
Itália -40% em partes iguais pelos 20 clubes, 25% pelo número de adeptos, 15% pelos resultados das últimas 5 épocas, 10% pelas classificações históricas, 5% pela classificação da última época, 5% pela relevância de um clube na comunidade onde está sediado.
Espanha - 45% Real Madrid, 45% Barcelona e 10% para os restantes.
O modelo espanhol, quase ditatorial, parece servir perfeitamente os interesses dos dois clubes que pretendem “refundar” o futebol português.
Não estranharia que uma proposta nestes moldes fosse um dia aprovada pela maioria silenciosa, um rebanho que segue…cabisbaixo mas obediente, no trilho para uma morte lenta.
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