Ao
ler ontem os crimes por que Paulo Pereira Cristóvão está indiciado,
mais uma vez dei por mim a pensar acerca da complexidade da justiça e
sobre a eterna "cabala" que todos e cada um dos arguidos, nos mais
variados casos, diz ter sido engendrada contra si e a sua reputação.
Nisto
do desporto e dos interesses que lhe estão associados, torna-se cada
vez mais vulgar vermos (ir)responsáveis dos clubes a braços com a
justiça, e nada como estar bem posicionado para usufruir das inúmeras
benesses que por vezes são concedidas.
Umas vezes é o Presidente da República que vem indultar, outras é o próprio sistema que se encarrega de o fazer.
Por falar em sistema, o Costa deslocou-se
ontem à Assembleia da República, para o encontro anual com os deputados
que são adeptos do clube que veste de azul e branco.
Já
lá vão vinte anos destes piqueniques. Nem sei como é que deixaram
passar os primeiros 10 anos de liderança sem uma boa patuscada.
O repasto decorreu no último piso do novo edifício
da Assembleia da República (situado ao lado do Palácio de São Bento).
O
líder foi recebido pela
presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves. À saída, o
dirigente destilou algumas atoardas, típicas de quem habituou a atacar
primeiro, para evitar percalços. Rejeitou que esta
confraternização reflicta alguma promiscuidade entre o desporto e o meio
político, afirmando não temer as críticas:
“Não receio, mas de certeza
que vai haver, porque infelizmente o número de estúpidos não tem
diminuído.”
Engraçado
como a palavra promiscuidade é da mesma área vocabular de política e
desporto, mesmo que aparentemente não tenham nada em comum.Além disso,
num local onde passam metade do tempo a ofender-se, chamar estúpido a
alguém parece quase linguagem de uma criança de 2 anos. Já estou a ver
que, no próximo ano, o Costa virá dizer que são parvos e feios.
O dirigente, em declarações ao Porto Canal, elogiou a atitude de
Assunção Esteves.
“É uma grande felicidade e honra, porque
estamos no coração da democracia portuguesa, ser recebido com tanta
amizade e tanta estima num sentido tão alargado de paixão pelo FC
Porto”, disse, acrescentando: “Tenho de sentir-me feliz pela recepção que
a senhora presidente da Assembleia da República nos prestou e pela sua
grande coragem e verticalidade em assumir publicamente a sua paixão pelo
FC Porto. Vou agradecido, feliz e honrado por ver que os portistas se
assumem em todas as circunstâncias.”
Neste aspecto tenho que dar razão ao homem. Na defesa intransigente da causa, os sportinguistas deixam muito a desejar.
Viu-se,
por exemplo, quando a Câmara de Lisboa era presidida pelos
sportinguistas Santana Lopes e Carmona Rodrigues. Nem o Sporting nem
qualquer outro deviam ser beneficiados, usufruindo de favores políticos
mas, é menos compreensível que um rival tenha sido, em detrimento do
clube do coração dos autarcas.
Voltando
ao convívio no Parlamento, é curioso verificar que apesar das normais e
cíclicas críticas, que se fazem ouvir ao ritmo dos brindes no beberete,
foi por altura do caso conhecido por Apito Dourado que foram mais
cáusticas.
Nem
na época em que o Costa foi constituído arguido e, posteriormente, a
justiça desportiva deu por provados alguns dos ilícitos, deixaram de
estender a toalha e celebrar os feitos desportivos. Não seria agora que
iriam acabar com uma tradição que pode rivalizar com os Santos
Populares.
Apesar
da carga negativa que se pode e deve atribuir a este evento, é de
destacar que esta parece ser a única forma de juntar à mesma mesa
ideologias e maneiras de ver a sociedade antagónicas.
Só por isto devia ser atribuído o Globo Dourado ao dirigente.
Nesta
simbiose (relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos
vivos de espécies diferentes) as vantagens são mútuas mas o amor à
camisola sobrepõem-se a quase todas as outras.
A viagem de cerca de 50 assalariados do Estado a Sevilha, em 2003, para assistir à final da Taça UEFA usando o expediente de trabalho político pode ter sido uma vantagem, mas o inverso também se aplica.
É que se em terra de cegos quem tem um olho é rei, em terra de espertos convém ter dois olhos e uns quantos conhecimentos, para o que der e vier.
A viagem de cerca de 50 assalariados do Estado a Sevilha, em 2003, para assistir à final da Taça UEFA usando o expediente de trabalho político pode ter sido uma vantagem, mas o inverso também se aplica.
É que se em terra de cegos quem tem um olho é rei, em terra de espertos convém ter dois olhos e uns quantos conhecimentos, para o que der e vier.
Simbiose
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