Pronto, a selecção volta para casa. Acabou-se o sonho.
Talvez nunca tenha passado disso mesmo, dado que a nossa sina é a mesma desde sempre.
O destino que nos está reservado é sempre o mesmo e o histórico das grandes competições em selecções está aí para o comprovar.
Quando o futebol ainda era a preto e branco, fomos os vencedores morais do Mundial de 66, depois surpreendemos em 84, ficámos com água na boca em 2000, foi o quase em 2004 e estivemos à porta em 2006.
O
2012 não fugiu à regra, e uma série de circunstâncias impediram uma vez
mais o sucesso. Logo à partida, convém recordar que a vitória de ontem
não nos faria ganhar nada, mas prolongaria o doce sonho por mais uns
dias. Contra italianos ou alemães, habituais carrascos das nossas cores,
seria expectável que os postes se aliassem contra nós, que um vendaval
soprasse contra nas duas partes do jogo ou que ligassem a rega na nossa
zona de ataque.
Também havia a possibilidade de serem melhores que nós, algo que não seria de desdenhar.
Ontem
fomos melhores que os espanhóis durante quase 90 minutos, mas eles
foram superiores durante os 30 restantes, porque corremos no tempo
regulamentar até à exaustão para tentar contrariar o irritante futebol de posse
de bola. Fizemo-lo bem, como nenhum outro fez nos últimos 6 anos em jogos oficiais, mas
faltou qualidade para rematar a faena. Sufocámos o poderoso meio-campo
adversário, como o Moreirense faz pontualmente ao Sporting, mas os
fogachos no ataque souberam a muito pouco.
Chegados
ao prolongamento, Paulo Bento não tinha mais armas que tentar segurar o
empate e esperar que os deuses se aliassem às nossas cores, por uma
vez, só que há mais probabilidades deles terem uma costela espanhola,
por ordem de grandeza.
Os
dois dias de descanso suplementares esgotaram-se na correria desenfreada
para pressionar Iniesta, Xavi & Cª. Até Casillas teve que suportar
as constates investidas de Hugo Almeida, mas não foi certamente o
guarda-redes que esgotou as energias nesta pressão. Gerimos mal o
esforço, mas talvez fosse o único modo de perder de forma decente, como
Bento deu a entender. Perder nos penalties, para ele, é muito melhor que
perder no tempo regulamentar.
O
nosso seleccionador apostou tudo na lotaria, e pelos vistos deve ser um
sortudo no amor. À posteriori é fácil dizer que este ou aquele não
seriam os mais acertados, mas foi fácil adivinhar quem falharia.
Moutinho,
talvez o melhor nos 90 minutos, fez igual ao que sempre fez no
Sporting. Marcar pontapés de canto inócuos e falhar penalties.
No entanto, Paulo Bento é fiel aos seus princípios.
Bruno
Alves, que depois de Polga é o segundo maior chutão que jogou no
futebol português, esteve indeciso entre o biqueiro à barra ou para o
lugar 38 da fila Z.
Decidiu acertar no ferro, para que a eliminação ganhe maiores contornos de infelicidade.
A
vaca espanhola, por sua vez, deu um coice directamente do poste para
dentro da baliza de Patrício, que não teve aliados para se tornar herói.
Esta
mama espanhola, associada a muita qualidade, trabalho e, dizem os
franceses, a um ou outro produto que faz aumentar o rendimento
desportivo, já começa a cansar, e seria de bom senso trocar o touro,
símbolo da identidade espanhola, pela grande vaca que os acompanha.
Ou isso, ou uma manada inteira.
Disse Paulo Bento que o percurso foi excepcional.
Discordo em absoluto. Excepcional era ganhar, muito bom era ir à final.
Foi uma boa prestação portuguesa, mas sem deslumbrar.
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