O mundo que nós conhecemos sempre esteve partido em dois.
Praticamente desde que Portugal e Espanha celebraram o Tratado de Tordesilhas e dividiram o mundo em duas metades, há 521 anos atrás.
Os tempos mudaram mas a bipolarização tem acompanhado a evolução. Nunca pareceu haver lugar a zonas cinzentas.
Ou se era simpatizante do Bloco Ocidental ou do Bloco de Leste, durante a Guerra Fria.
Ou se gosta de PS ou PSD, Democratas ou Republicanos, Pespi ou Coca-Cola, Super Bock ou Sagres.
Quase sempre a duas cores.
O próprio Maradona disse que para ele só há preto e branco. Não há cinzento.
No desporto também é um pouco assim.
Real ou Barça, Sporting ou lampionagem, Ronaldo ou Messi.
De todos estes exemplos só me revejo no Sporting, apesar de haver um movimento que pretenda afastar o clube leonino desta dicotomia e passar a existir apenas a rivalidade porto-benfica.
Apenas por uma vez fui tentado a escolher o que havia disponível nos pratos da balança e tornei-me, deste modo, verde e cinzento.
Apesar do verde toldar-me por vezes a razão, o cinzento permite que me consiga abstrair das demais matérias em discussão.
É por isso que observei a escolha de Ronaldo como vencedor da Bola de Ouro com uma saudável equidistância.
Claro está que o jogador madeirense, tal como em tempos Figo…representa a formação do Sporting e ambos são um tremendo porta-estandarte do clube, mas não é essa “coincidência” que me ofusca as ideias.
A escolha de um jogador não é uma matéria pacífica. Nunca o será.
Se já é difícil escolher entre Montero e Slimani ou entre Sarr e Maurício, mais complicado se torna determinar quem foi o melhor num determinado período, em equipas diferentes, e com todas as nuances que um longo ano civil comporta. Apesar de tudo, não tenho pudor ou preconceito em reconhecer quando Messi ou qualquer outro é melhor que o português.
Já a maior parte dos adeptos fica amarrado ao seu objecto de culto, à sua religião.
Fica amarrado ao jogador, mas essencialmente ao clube que ele representa no momento, mesmo com uma ou outra saudável excepção.
Sim, porque Ronaldo/Messi é o prolongamento do Real/Barça.
Basta ler metade dos milhares de comentários do diário Marca para nos apercebermos que 99% dos adeptos do Real não encontram mérito em Messi, e vice-versa.
Qual seria a opinião de muitos dos sportinguistas-madridistas se CR7 jogasse no Barça?
Provavelmente gostariam tanto dele quanto os adeptos sportinguistas-culés gostam dele actualmente.
Até o mediatismo mundial do evento foi ganhando peso pela tonelagem dos dois gigantes espanhóis.
Não acredito que houvesse esta obsessão com a escolha se os intervenientes tivessem outra origem. Aliás, como aconteceu num passado recente, até que há oito anos atrás estes dois extra-terrestres se tornaram na imagem do próprio futebol.
Há dez anos atrás não esteve este circo montado quando se escolheu entre Ronaldinho, Henry e Schevchenko.
A escolha era mais pacífica e menos sujeita a política e propaganda.
Muitos sportinguistas também se deixam guiar pela emoção e levam muito a peito esta escolha.
Chegam até a ofender ou a colocar em causa o sportinguismo alheio caso não apreciem as qualidades de Ronaldo.
Tem que se gostar de CR7 por ser sportinguista, mesmo que muitos sportinguistas andem constantemente numa luta fratricida por todo e qualquer motivo, onde só não vale é tirar olhos.
Mas este dilema entre Ronaldo e Messi, Real e Barça não tardará muito a acabar…(e os sportinguistas continuarão a digladiar-se por todo e qualquer motivo).
Ronaldo terá mais três ou quatro épocas para se manter no pódio dos melhores do mundo, enquanto Messi poderá optar por outros desafios, e ficaremos então a saber se alguns dos seus fãs continuarão a tê-lo como referência.
Ronaldo arrecadou a sua 3ª Bola de Ouro (ou Bota de Ouro, conforme Nuno Gomes teima em apelidá-la) e pareceu-me uma escolha justa.
Apesar dos números também estratosféricos de Messi, as conquistas e regularidade de Ronaldo desequilibraram nitidamente a balança.
Mas a verdade é que apesar desta minha cinzenta opinião, há quem veja as coisas de outro modo, como o jornalista Luís Avelãs.
Para ele, seria coerente escolher um alemão.
Só faltou dizer que podia ser um qualquer, desde que fosse alemão.
Assim do tipo… Grosskreutz ou Weidenfeller…desde que tivesse estado presente no Mundial do Brasil.
O Mundial aparece agora, para alguns, como a batuta que deve marcar o compasso desejado.
Pelos vistos, uma prova com 30 dias de duração deverá reger o que é produzido pelos atletas durante 365 dias. Talvez para voltar a escolher um qualquer Cannavaro, campeão mundial com a sua selecção e vencedor "surpresa" da Bola de Ouro em 2006.
Curioso que o próprio Messi venceu este mesmo galardão em 2010, apesar da Argentina ter caído estrondosamente nos 1/4 de final do Mundial desse ano.
Independentemente das análises que se continuem a fazer, sustentadas em vários dogmas ou preconceitos, continuo a acreditar que estamos perante dois dos melhores jogadores da história. História que verá ampliada a discussão de quem foi o melhor de sempre.
Pelé, Maradona…Ronaldo e Messi!!
Certezas de quem é ou foi o melhor, não!!
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