segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Mentira

Tudo está bem quando acaba bem?
Para mim, definitivamente, não!!
Não consigo pensar no jogo de ontem e cingir-me apenas ao resultado.
Diria até que é muito mais fácil revoltar-nos contra o estado obsceno da arbitragem e para o rumo de mais um campeonato manchado de vergonha na hora da vitória do que, como é hábito, após o desespero de mais alguns pontos perdidos.
Por isso fiquei pouco disponível para comentar o fabuloso golo de Nani, a exibição conseguida dos nossos laterais, o oportunismo de Tanaka ou os bons momentos colectivos na 2º parte.
A vitória é um pequeno rebuçado para adoçar a boca após mais um amaríssimo banquete que nos foi servido.
Perante mais de 42 mil testemunhas in loco e uns milhões pela tv, o árbitro Jorge Tavares não se coibiu de realizar mais uma exibição despudorada em pleno covil do leão.
Pouco me interessa se o comentador José Nunes deu cartão verde ao árbitro, considerando não ter tido erros de relevo, na sua habitual análise aos intervenientes na Antena 1.
Parece-me que toda a gente pôde observar o que se tentou cozinhar, mesmo que desta vez os atletas do Sporting tenham conseguido apagar o fogo.
Nem seria necessário reportar-me àqueles pequenos erros que vão minando a confiança dos jogadores e a paciência dos adeptos. Basta recordar o penálti e consequente expulsão do jogador gilista logo aos 15 minutos de jogo, o amarelo a Tobias por um corte limpo ou o grosseiro erro arbitral numa reposição rápida de William que, em vez do cartão amarelo ao jogador Yazalde por dificultar esta acção, ainda proporcionou ao Gil Vicente a sua única oportunidade de golo.
E, de facto, se esse golo acontece poderíamos estar hoje a chorar a perda de mais pontos.
Os media diriam que o Sporting tinha inclusivamente em risco a Pré-eliminatória da Champions.
Os adeptos ficariam revoltados mas acabariam dividindo responsabilidades por jogadores, treinador e estrutura directiva.
Tem sido à conta destes “pequenos” erros que tem sido escrita a história deste campeonato.
Como se já não bastasse a pouca vergonha que aconteceu uma vez mais no jogo do líder do campeonato!!

Mas, mesmo considerando que o momento para agitar a bandeira da revolta deve ser após uma vitória, questiono-me se vale a pena continuar nesta cruzada contra a mentira.
Foi assim durante mais de 30 anos de consulado portista, e os resultados são os que se conhecem.  
De que serviu o clube e os seus adeptos terem feito luto…terem mostrado toda a sua indignação…terem protestado…terem calado…terem denunciado??
O embuste continua instalado, e apenas mudou de protagonistas.
Os adeptos encarnados, que nessas décadas de Calheiros ou Martins dos Santos tentavam juntar a sua à nossa voz de protesto, agora adoptam a mesma postura autista (com todo o respeito para quem padece este distúrbio) que caracterizou o adepto portista durante décadas. Ambos alheiam-se da realidade e manifestam um comportamento (e discurso) repetitivo, e só se conseguem focar no objectivo alvo.
É inútil tentar chamá-los à razão.
Não reconhecem o mal que afecta o futebol e vivem extremamente felizes face ao sucesso que as vitórias lhes proporcionam.
Na sua mente distorcida, nós é que vivemos uma ilusão.
Sinceramente, estou cansado de assistir a este espectáculo degradante que dá pelo nome de futebol.
Eu sei que não serve de nada acomodar-me, resignar-me, mas por vezes conseguem vencer-nos pelo cansaço. Como quando nos torturam o tempo suficiente para resignarmos e abdicarmos da nossa dignidade.

Ontem mesmo disse Rui Santos, no programa Play-Off, relativamente aos erros sucessivos que têm beneficiado a lampionagem:
“Não gosto de ver as equipas ganhar desta maneira assim. Acho tudo uma mentira”.

E é por esta mentira que muitos adeptos continuam a sofrer, e outros tantos a pagar para ver.






sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Humor fosco


Ontem era difícil não aflorar o tema do dia, mas após a derrota na Alemanha já posso divagar sobre o tema que ganhou alguma notoriedade nas redes sociais, mas que também chegou à imprensa escrita.
Porque, como diz o ditado…”a divagar se vai ao longe”
Falo, claro está, da publicação do jornalista Miguel Somsen na sua página do Facebook, em que teve o desplante de brincar com o ar beto e penteado beto dos sportinguistas.
Vai daí, os betos leoninos revoltaram-se.
Eu, que tenho o cabelo sempre em revolução e ar de sem-abrigo, não me senti minimamente melindrado com esta piada do jornalista que, dada a profusão de ofensas e ameaças, teve que confessar que foi sportinguista até aos seus 10 anos de idade, antes de se transferir a custo zero para adepto do Belenenses.
O comportamento extremista e intolerante de alguns sportinguistas perante uma graçola…tenha ela pouca ou muita piada, terá aproximado alguns do espírito jihadista, numa altura em que a liberdade de expressão ainda está de luto após o ataque terrorista que pretendeu calar um jornal satírico em Paris.
No entanto, esta liberdade não é nem nunca será consensual pois, também eu, acredito que deve haver limites ao que emana da nossa consciência.
Paralelamente aos direitos e deveres consagrados, deve haver a nossa própria censura e, principalmente, um enorme bom-senso na hora de debitar opinião.
Ou isso ou um silenciador de boca, que se pode encontrar em qualquer loja dos chineses por menos de um euro.
Que o diga aquele cidadão que foi detido e multado após ter dito a Cavaco para ir trabalhar, nas comemorações do 10 de Junho. Só um presente de Natal em forma de indulto do Presidente da República o livrou de 1300 chibatadas em forma de euros.

Bom-senso parece não ter faltado a Somsen, na hora de brincar com o espírito beto que ele cola ao adepto tipo do Sporting, mas o sportinguista anda com pouca vontade de rir.
Diferente seria se alguém relatasse na primeira pessoa que se aprestava a embarcar num avião atafulhado de lampiões, com o garrafão de tinto na mão, com a unhaca do mindinho a rondar os 10 cm e o palito atrás da orelha. Este seria o humor onde nos revemos e, sinceramente, espero nunca ter de andar por cima das nuvens nestas condições.
Já me aconteceu chegar a Viena a ouvir o Ésseubê e foi uma experiência que não desejo repetir.

Perante o desfilar de opiniões de desagrado na página do jornalista, houve tentativas de comparação com o anúncio da Sagres com Patrício como protagonista ou com o boneco-vudu de Ronaldo atado a uma linha de comboio, patrocinado pela Pepsi.
Parece-me que os conteúdos não são comparáveis, mas em qualquer destes casos houve uma reacção em cadeia provocada por um sentimento patriótico ou clubista um pouco desbragado.
O que vale é que apesar do espírito jihadista ainda somos o melhor povo do mundo (se retirarmos os lampiões), como disse o então ministro…Vítor Gaspar.

Mas no meio das centenas de comentários que a publicação de Somsen recebeu, houve uma que se destacou.
Foi a do jornalista da TVI, José Gabriel Quaresma, que sugeriu ao seu amigo que colocasse uma bomba no avião.
Será a isto que me refiro quando falo na dicotomia...liberdade de imprensa vs bom-senso?
Não. Isto é pura palermice. Daquela mesmo genuína.
O que pode levar uma criatura mediática, com responsabilidade e visibilidade evidentes, publicar uma sugestão desta natureza?
Palermice genuína.
Nem sequer se pode assacar ao seu lampionismo tal comportamento, pois basta visitar as páginas de alguns lampiões mediáticos para se verificar que só um idiota pode sugerir que se coloque uma bomba num avião com sportinguistas.
Só mesmo um grande idiota pode sugerir que o seu amigo Somsen coloque uma bomba no avião onde o próprio vai viajar.
Perante as ameaças que entretanto recebeu, José Gabriel Quaresma pediu desculpas públicas e lamenta que as pessoas não tenham percebido que tudo não passou de uma piada.
Vou experimentar fazer uma piada “à la Quaresma”: 
-Os lampiões vão jogar contra o Moreirense. Espero que o autocarro caia por uma ravina.

Hmm…mesmo com lampiões envolvidos, acho que o humor de J.G.Q. não funciona.

O jornalista da TVI disse também que “ As pessoas que me conhecem sabem que jamais diria ou pensaria aquilo.”

Eu sou dos que não te conheço, felizmente, mas há uma coisa que não percebo.
Jamais dirias ou pensarias aquilo?
Mas…disseste!!

Ahhhh, mas não pensaste!!
Lampião típico.



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Está escrito nas estrelas...ou na testa

Não me apetece muito falar sobre a nossa derrota na Alemanha.
Ainda não li nada sobre o jogo e, deste modo, não sei como estão as tendências da moda, mas nada do que pude observar me surpreendeu.
É verdade que quando fiz a antevisão do adversário na página do Facebook logo me surgiram alguns sportinguistas indignados com alguns elogios que teci ao nosso adversário, pois a nossa grandeza seria mais que suficiente para fazer soçobrar qualquer adversário.
Sim, porque mesmo que um só jogador do Wolfsburgo pague a época toda do Sporting, o nosso rico palmarés português e europeu (uma Taça das Taças ganha há mais de 50 anos atrás) ridiculariza o único título oficial dos alemães.
Sim, porque mesmo que o Wolfsburgo ande a passear classe e eficácia no competitivo campeonato alemão, quem se pode comparar ao nosso clube?
Mas já pouca coisa me surpreende no desporto e no que gravita na sua esfera de influência.

É verdade que o Sporting fez uma primeira parte interessante, onde raras vezes foi surpreendido pelo ponto forte dos alemães, que são as rápidas transições.
E foi também na primeira parte que surgiu o lance que poderia dar outra cor à eliminatória. Uma grande penalidade do tamanho do Big Ben (parafraseando Mourinho) poderia ter dado vantagem ao Sporting e a história não seria a mesma.
No entanto, parece estar escrito nas estrelas que não temos sorte nenhuma com o gajo do apito, ou então parece que temos escrito na testa que somos uns otários, porque o erro cai sempre para o nosso lado.
A nossa sorte na Champions ficou marcada por uma bola na cara que foi transformada em grande penalidade, e a nossa sorte na Liga Europa pode ficar marcada por uma mão na bola que foi grotescamente ignorada.
O Sporting ainda terá muito que crescer enquanto instituição para que lhe seja feita justiça, como ontem aconteceu ao porto em Basileia. Não tenho dúvidas que se fossemos nós a vestir a pele de equipa visitante o árbitro teria considerado casual a mão de Walter Samuel que permite aos portistas outro desafogo na eliminatória.
Mas, se exceptuarmos o lance da grande penalidade que nos foi cirurgicamente extirpada, parece-me que até nos podemos dar por satisfeitos entre o deve e haver.
Para nos lamentarmos dos falhanços de Carrillo e João Mário teremos que pensar nos 4 ou 5 golos feitos que os alemães falharam ou Patrício defendeu.
Agora…é esperar um Sporting muito diferente na próxima semana, mas o cenário é muito sombrio.
É que basta um golo dos alemães em Alvalade e o Sporting terá que marcar quatro para passar a eliminatória. Se pensarmos que nos últimos 8 jogos só por uma vez não sofremos golos (contra a Académica) parece-me que só com um ataque demolidor poderemos acreditar na qualificação.
Mas, como até ao lavar dos cestos é vindima…

O perigo vem pelo ar

Nesta época carnavalesca vesti o meu fato de “homem-invisível” e desapareci da vista humana.
Isto não invalida que tenha estado atento à actualidade leonina, mesmo que tenha andado a poupar nas palavras que costumo partilhar com os habituais leitores.
Hoje, no entanto, não podia deixar de escrever uns parcos parágrafos para solidarizar-me com as preocupações da imprensa relativamente à eliminatória europeia do Sporting.
Nas últimas horas foram muitas as notícias a dar conta do perigo que a equipa leonina pode correr face ao poderio alemão nas bolas paradas.
Apesar da equipa não demonstrar esta época a mesma segurança do ano passado (que parecia ter enterrado o trauma dos cantos e livres que padecemos durante anos a fio) a verdade é que também não temos passados grandes sobressaltos.
…Mas agora vêm aí os “alemães”.
Alemães é uma força de expressão, porque os mais altos e loiros até têm passaporte dinamarquês, belga ou holandês. Menos loiro mas mais alto é o brasileiro Naldo, com os seus quase dois metros.
Apesar de não ser normal acompanhar os jogos do Wolfsburgo, o facto de ser nosso adversário fez-me olhar com outra atenção para os seus jogos.
Desde o final da paragem de Inverno a equipa alemã fez quatro jogos, e demonstrou uma capacidade goleadora preocupante. Vi a vitória em Leverkusen (4-5) e a goleada ao líder Bayern (4-1), mas também estive atento aos resumos do empate em Frankfurt (1-1) e da vitória sobre o Hoffenheim (3-0).
O que realçou do vendaval ofensivo do nosso adversário, que marcou 13 golos em 4 jogos mas podiam ter sido 20, dada a quantidade de ocasiões claras de golo, foi o seu letal contra-ataque e ataque rápido.
Mas os meus olhos de leigo é que me levaram a esta conclusão, porque os entendidos dizem que o perigo vem das bolas paradas.
Aliás, só pelo facto de estar a escrever estas linhas em tom jocoso é garantido que iremos sofrer um golo de um pontapé de canto…ou de baliza.
É tão certo como chamar-me “homem-invisível”.
Mas desengane-se quem pensa que eles marcaram os últimos 13 golos apenas em transições.
Não.
Naldo marcou de livre directo e Bas Dost marcou de fora da área num pontapé fantástico, depois da bola ter sido aliviada pela defesa. 
Não fizeram valer a sua altura (pois marcar livres e rematar de fora da área de cabeça não dá muito jeito)…mas na sequência de lances de bola parada.
O Sporting que se cuide, pois o perigo vem pelo ar.
É o que dizem os entendidos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Mal posso dormir


Esta noite mal pude dormir.
Dei voltas e mais voltas na cama, mas não me saía da cabeça o corte de relações institucionais entre Sporting e lampiões que o nosso clube, unilateralmente, decretou.
Todos sabemos que, independentemente de termos mães, pais, amigos(as), namorados(as), maridos, mulheres, filhos(as), tios(as), avôs, avós, patrões ou, até, algum animal de estimação que seja sócio ou adepto do clube rival, e que tenhamos por alguns deles um intenso amor por força das circunstâncias, nada será como antes se não mantivermos relações institucionais com o clube da roda da bicicleta.
É verdade que nunca morremos de amores pela generalidade dos seus adeptos (e vice-versa).
É verdade que nunca morremos de amores pela arrogância que por vezes demonstram.
É verdade que nunca morremos de amores por terem alterado a data de fundação.
Apesar de todas estas e outras verdades e de todas as diferenças que sempre nos distinguiram, talvez fosse mais bonito manter as aparências e, tal como numa relação condenada ao divórcio, os responsáveis pelas instituições mantivessem o sorriso de circunstância e, talvez, até fossem vistos juntos em iniciativas públicas a trocar apertos de mão.
Seria mesmo bonito que tudo pudesse continuar como até aqui.
Os rivais podiam, até, continuar a aliciar telefonicamente atletas de uma modalidade do Sporting para mudar para o outro lado, desde que esta prática não beliscasse as aparências.
Ou, quem sabe, convencer atletas de uma outra modalidade para fazerem um ano como individuais para no ano seguinte aparecem com a roda de bicicleta ao peito, passando por cima de acordos estabelecidos.
Nenhuma destas e de tantas outras práticas que podem corroer a confiança justificam medidas drásticas e que lesam a boa imagem do clube.
Não me conformo com o corte de relações e aposto que hoje terei mais uma noite mal dormida.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Je suis Leoninamente

Diz-se que o futebol da actualidade move milhões mas, muito antes desta vertente economicista, começou por alimentar e incendiar paixões. Foi assim no início e assim se mantém, apesar da evolução quase natural de algum clubismo exacerbado, fruto de uma sociedade cada vez mais mediatizada e que promove este tipo de exibições.
Se recuarmos algumas décadas no tempo, ou visionarmos dérbis do século passado, é possível constatar que, apesar de toda a rivalidade já existente quase desde a fundação dos clubes, era possível coexistirem nas bancadas adeptos de cores diferentes.
No presente, como se já não bastasse assistirmos à selvajaria que grassa pelo mundo às mãos de gente sem qualquer civismo ou humanidade, vimos que o futebol fora das quatro linhas também é, cada vez mais, palco de violência e intolerância.
Claro está que a maioria não se revê ou condena actos que envergonham o desporto, mas os sinais de um indesejado radicalismo parecem cada vez mais evidentes.
Apesar da intensa rivalidade e do natural arremesso de adjectivos e argumentos de um lado e do outro, cada vez mais potenciados pelas redes sociais, há limites que são constantemente ultrapassados, também no esgrimir de argumentos e de defesa dos ideiais.
O dérbi, que também aconteceu no futsal no passado fim-de-semana, voltou a exumar lamentáveis acontecimentos através da exibição de uma tarja com a inscrição “Very Light 96”, e culminou com o lançamento de tochas e petardos na direcção dos adeptos sportinguistas presentes em Alvalade, como que a lembrar que esse incidente que vitimou um adepto do Sporting pode não se esgotar num lamentável cartaz mas que pode, sim, repetir-se a qualquer momento.
As manifestações de repúdio e de branqueamento, de um lado e do outro, foram a consequência natural, mas o ego inchado, a prepotência e a intolerância de quem se julga maior do que o próprio país parece não dar tréguas.
Hoje, ao visitar o blog “Leoninamente”, cujo autor defende afincadamente o Sporting mas sempre com uma postura digna e educada (própria da idade e da geração do autor) deparei-me com um comentário a uma pertinente publicação sobre um jogador uruguaio recentemente contratado pela lampionagem.
Até podia não ser pertinente, mas a apregoada liberdade de expressão a que temos direito, desde que exercida dentro dos cânones estabelecidos, é um direito individual e inalienável.
A ameaça a que o autor foi sujeito, relembrando precisamente o crime de 96, é lamentável e retrata o quão fundo se pode descer pelo alegado amor a uma causa.

A barbárie cometida por radicais no Charlie Hebdo há tão pouco tempo, e condenada por quase todo o mundo civilizado, parece não ter tido eco nalgumas cabeças mais arejadas.

O mais preocupante é que estes são episódios cada vez menos isolados, a tendência para propagar-se é bem superior ao actualmente contido Ébola, e não se vislumbra que esteja qualquer vacina em testes para erradicar de vez este praga.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Ice Bucket

Desalento…frustração…desânimo...prostração…desencanto…desilusão…decepção…raiva
O que aconteceu em Alvalade foi futebol que, tal como a vida, é pródigo em injustiças mas isso não impede que me invadam este tipo de sentimentos.
São já demasiados os anos a ver que a fava toca sempre aos mesmos, que a vaca sai para pastar vezes demais e que tenhamos invariavelmente que contribuir, nem que seja com umas migalhas, para a fortuna dos outros.
Talvez por ser conhecedor profundo destas variáveis tivesse prognosticado, a pedido de um amigo (que sabe o meu feeling para estas coisas) este mesmo resultado, embora desejasse profundamente ter-me enganado.
O Sporting não fez um jogo perfeito, mas fez o suficiente para vencer sem sobressaltos um adversário que pareceu, na maior parte do tempo, uma daquelas equipas pequenas que vem a Alvalade jogar para o pontinho.
Tal como Jesus tinha dito no pós-jogo de Paços de Ferreira, “se não ganharmos não podemos perder”, e o objectivo de não perder foi corporizado desde o apito inicial.
A equipa dos milhões entrincheirou-se no seu meio campo e esperou, pacientemente e com boa dose de organização defensiva, que o relógio corresse rápido.
A equipa dos miúdos vestiu a pele de equipa experiente, dominou o jogo durante perto de 94 minutos e demonstrou, uma vez mais, que a classificação actual encerra uma enorme dose de falsidade.
Este Sporting é, sem dúvida, melhor que o líder do campeonato…mas cometeu um pecado no último lance do jogo, em que foi demasiado brando para mandar uma bola para as malvas.
Ou então, como qualquer equipa minimamente experiente, teríamos visto o nosso guarda-redes com uma pertinente lesão nos instantes finais do jogo, tal como as cãibras de Artur durante quase toda a segunda parte, enquanto o resultado lhes era favorável, tal como já tinha feito num recente jogo na ETAR.
Ou então, como qualquer clube com outro ADN, teríamos visto os nossos apanha-bolas desaparecer misteriosamente ou atacados por uma sonolência repentina.
Com aquele golo que mais parecia um Ice Bucket Challenge feito em simultâneo a 50 mil almas fui até levado a lembrar-me que Paulo Bento teria tirado um avançado por troca com um central e um extremo por um trinco, para abordar os últimos lances do jogo, mas Marco Silva não merce tal comparação.
Joga para ganhar, sempre, e também ele foi vítima de um lance fortuito que podia ter acontecido em qualquer outra altura.
Agora as contas são simples.
O título é matematicamente possível, mas objectivamente devemos pensar em agarrar-nos ao terceiro lugar e, enquanto for possível, com o segundo lugar ainda em mente.

Apesar de tudo, acho que devemos ter muito orgulho nesta equipa, mesmo que tenhamos ainda as roupas e a alma geladas.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Curiosidades do dérbi

A capa de hoje do jornal A Bolha dedica grande parte do espaço disponível ao dérbi Sporting-Lampionagem.
Ficamos a saber que Gaitán não estará apto para Alvalade e que no seu lugar deverá avançar Ola John.
Ficamos a saber que Vieira estará na tribuna de honra e, não menos importante, que Paulo Oliveira vai usar caneleiras XPTO.
É de facto um detalhe com uma enorme importância, nem que seja pelo facto de Maxi Pereira estar à solta em campo sem açaime.
Mas desengane-se quem pensa que os assuntos sobre o Sporting se esgotam nas caneleiras do nosso central.
Também Tobias Figueiredo é colocado em destaque, num frente-a-frente com Luisão.

Deste modo, o pasquim realça o facto de que Tobias tinha apenas 8 anos quando Luisão se estreou nos lamps, ou que quando Tobias nasceu Luisão já tinha 13 anos.
Muito interessante.
Mas, se esgravatarmos na nossa memória também recordamos que quando Luisão agrediu um árbitro num jogo-treino na Alemanha, Tobias ainda jogava na equipa júnior.
Quando Luisão foi sodomizado por Liedson no 3º golo do Sporting no estádio do rival, Tobias ainda jogava futebol de 7, nos sub12.
Quando Luisão atropelou Ricardo no jogo que nos retirou o título, Paraty era uma pessoa feliz e Tobias jogava nos sub11 do Penalva do Castelo. Foi no mesmo ano em que Paíto virou as cuecas de Luisão do avesso, num jogo da Taça de Portugal.
Quando Luisão tinha cabelo Tobias ainda era careca.

Também sabemos que, apesar de ter apenas 26 anos, quando Patrício se estreou no Sporting... Artur Moraes, 8 anos mais velho, ainda iria jogar pelo Coritiba, Siena, Cesena, Roma e Braga, antes de bater com o costado na lampionagem.

Um dérbi conserva, de facto, curiosidades dignas de registo.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Jogar ao som do Bolton


Disse Slavchev, na sua apresentação no clube inglês que milita na segunda divisão: 

" Quando era miúdo e jogava consola escolhia sempre o Bolton".

Fiquei sensibilizado ao saber que o médio búlgaro jogava consola ao som de uma soporífera balada do conhecido músico.






Placa giratória

Apesar do mercado de transferências de Inverno já não coincidir com a época natalícia, o adepto sportinguista tem o saudável hábito de olhar para ele com aquele optimismo de quem se portou muito bem durante o ano, e vai ter a consola de último modelo como prenda no sapatinho, e ainda alguns jogos de bónus.
Quando acorda desse bonito sonho percebe que teve apenas mais um par de meias, e com sorte umas cuecas, porque em casa o dinheiro mal dá para o jantar de consoada.
Acaba a maldizer a sorte e a comparar as suas com as prendas dos seus colegas de turma, filhos de malta endinheirada ou com uma boa capacidade de endividamento à banca.
Este ano não fugiu à regra.
O pessoal acreditava que iria ter um central de qualidade indiscutível, um ponta-de-lança goleador e, quem sabe, mais alguma surpresa que os fizesse sonhar com o infinito…e mais além.
Afinal só tiveram um par de meias, e nem sequer estão prontas a calçar. Vieram com o tamanho trocado.
Como se não bastasse, viram o pai emprestar ou dar alguns dos seus pertences, que estavam na arrecadação à espera de melhores dias.
Viu-se sair Fokobo, Iuri, o Gazela, Chaby, Slavchev, Esgaio, Héldon, Rúben Ribeiro, Baldé, Manafá, Cissé, Enoh, Zihao e Maurício.
Enquanto isso, os seus colegas de turma regressaram do mercado com mais um carrinho cheio de novidades, algumas delas com aspecto de terem sido adquiridas no chinês.
Isso pouco interessa, porque o que parece ser relevante é a quantidade exibida, mesmo que a nossa arrecadação esteja a rebentar pelas costuras com aquisições similares e amplamente criticadas.
Li hoje que só esta época já foram utilizados 33 dos que estão em banho-maria na equipa B, que na época passada foram 47 e na anterior 44. Os números não destoam, pelo que deve ser o normal na gestão do plantel à disposição.

Mas enquanto nos auto-flagelamos com a nossa pouca sorte, o colega do Norte, por exemplo, acena com um Hernâni que, apesar de já ir a caminho dos 24 anos, é visto com grande margem de progressão. Talvez a mesma progressão de Tiago Rodrigues ou Ricardo Pereira, também adquiridos em Guimarães, mas que têm o handicap de não possuírem passaporte espanhol. Talvez por isso estejam a fermentar lentamente.
O colega do Norte emprestou os cromos de Ivo, Sami e Otávio, no que poderá ser considerada uma manobra inteligente, como todas as trocas de cromos que esse fulano faz.
Quem também saiu foi Opare, que se autoproclama o futuro melhor lateral esquerdo do mundo, o herói Kelvin, o empecilho Rolando e mais alguns da equipa B que nem o Luís de Freitas Lobo deve saber quem eles são.
Pior ainda é quando o colega novo-rico do Sul ostenta os seus novos brinquedos.
Mesmo que tenham perdido definitivamente Enzo ou a eterna esperança Jara, a chegada daquele miúdo com cara de ser pai do Maxi Pereira parece ser um enorme upgrade para o já faustoso plantel.
As saídas de Nélson Oliveira, Rui Fonte, Hélder Costa, Bebé, Rúben Pinto, Rochinha e mais alguns da equipa B que nem o Luís de Freitas Lobo deve saber quem eles são, foram compensadas com a chegada de mais uma série de jogadores com enorme potencial que, no rival, vêem abertas as portas para, em dois ou três anos, serem colocados no Valência ou no Corunha.
Daí se perceba porque Flávio Silva, dispensado pelo Sporting há pouco tempo atrás, preferiu dar este passo em detrimento do seu regresso ao clube.
Isto de um clube ter boas relações com empresário de renome e com boa capacidade de fazer circular a mercadoria faz do rival uma boa placa giratória, e escancara as portas do campeonato espanhol a qualquer um.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Miragem ou alucinação

Era eu uma criança quando vi numa enciclopédia a fotografia de uma miragem.
Fiquei algo perplexo porque pensei, na minha santa inocência, que um fenómeno desta estirpe não fosse possível captar com uma máquina fotográfica.
Claro está que eu, como muitos, confundi miragem com alucinação, talvez pelo hábito que tinha de ver desenhos animados onde os personagens lutavam para alcançar maravilhosos oásis no deserto que, chegados lá, não correspondiam à realidade.
Quando tentei explicar que a miragem é um fenómeno óptico, potenciado por determinadas condições atmosféricas, nem sempre fui compreendido, por pessoas com as mais variadas idades e graus académicos.
Existe até um fenómeno que ocorre sazonalmente no meu Algarve, perfeitamente visível nas praias durante o Verão, que foi confundido com uma onda gigante no ano de 1999 e que provocou o pânico generalizado na região, enquanto eu me deliciava nas cálidas e tranquilas águas pois o fenómeno observável era, unicamente, a tal miragem que ocorre todos os anos.
Mas não é só no Algarve que se dão fenómenos ópticos.
Em Arouca, no último Domingo, ocorreu uma miragem que iludiu a maioria dos observadores, e que os levou a considerar que tinha havido uma grande penalidade cometida por Jonathan Silva que não foi assinalada, e que essa infracção ainda lhe valeria o cartão vermelho, por acumulação de amarelos.
Esta miragem não me apanhou de surpresa, habituado que estou a fenómenos análogos.
Logo na primeira repetição vi perfeitamente que o jogador argentino cortou a bola de forma limpa, mas a minha estranheza foi com a repetida ideia dos jornalistas em afirmar que o defesa tinha derrubado o jogador belga do Arouca.
Os comentadores de serviço focaram a sua atenção numa determinada zona da anatomia do defesa sportinguista, e esqueceram-se de tudo o resto.
No entanto, a reincidência em comentários absurdos, que já vem de jogos anteriores, fez-me reduzir drasticamente o volume do canal televisivo e desfrutar das incidências do jogo.
Terminado este, fui saber das opiniões dos entendidos.
Comecei logo por ouvir Costinha, o nosso ex-jogador e ex-director, a afirmar a uma rádio que tinha ficado por marcar uma grande penalidade (e consequente vermelho) para o defesa leonino.
Depois ouvi Pedro Sousa, outro sportinguista convicto, fazer a mesma observação do lance, a um canal de televisão.
Outros houve que repetiram o diagnóstico, a juntar as suas às vozes de todos os adeptos de clubes que têm beneficiado de sucessivos erros arbitrais e que estão desejosos de que o Sporting também veja o seu nome manchado no presente campeonato.
Perante tanta unanimidade pensei que, afinal, o fenómeno que me afectou foi uma alucinação (distorção da percepção da realidade) e não uma simples miragem, que pode confundir qualquer um.
A imagem não me sai da retina, e continuo a ver Jonathan Silva a cortar o lance de forma limpa, apesar do pé que fica para trás acabe por tocar no avançado emprestado pelo porto aos arouquenses.
Parece-me que tenho que consultar um especialista.
A não ser que seja como em 1999. Aquela malta toda a fugir da praia, em histeria colectiva, também toda ela viu o mesmo, e até os meios de comunicação social se juntaram à festa e relataram o acontecimento.