terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Placa giratória

Apesar do mercado de transferências de Inverno já não coincidir com a época natalícia, o adepto sportinguista tem o saudável hábito de olhar para ele com aquele optimismo de quem se portou muito bem durante o ano, e vai ter a consola de último modelo como prenda no sapatinho, e ainda alguns jogos de bónus.
Quando acorda desse bonito sonho percebe que teve apenas mais um par de meias, e com sorte umas cuecas, porque em casa o dinheiro mal dá para o jantar de consoada.
Acaba a maldizer a sorte e a comparar as suas com as prendas dos seus colegas de turma, filhos de malta endinheirada ou com uma boa capacidade de endividamento à banca.
Este ano não fugiu à regra.
O pessoal acreditava que iria ter um central de qualidade indiscutível, um ponta-de-lança goleador e, quem sabe, mais alguma surpresa que os fizesse sonhar com o infinito…e mais além.
Afinal só tiveram um par de meias, e nem sequer estão prontas a calçar. Vieram com o tamanho trocado.
Como se não bastasse, viram o pai emprestar ou dar alguns dos seus pertences, que estavam na arrecadação à espera de melhores dias.
Viu-se sair Fokobo, Iuri, o Gazela, Chaby, Slavchev, Esgaio, Héldon, Rúben Ribeiro, Baldé, Manafá, Cissé, Enoh, Zihao e Maurício.
Enquanto isso, os seus colegas de turma regressaram do mercado com mais um carrinho cheio de novidades, algumas delas com aspecto de terem sido adquiridas no chinês.
Isso pouco interessa, porque o que parece ser relevante é a quantidade exibida, mesmo que a nossa arrecadação esteja a rebentar pelas costuras com aquisições similares e amplamente criticadas.
Li hoje que só esta época já foram utilizados 33 dos que estão em banho-maria na equipa B, que na época passada foram 47 e na anterior 44. Os números não destoam, pelo que deve ser o normal na gestão do plantel à disposição.

Mas enquanto nos auto-flagelamos com a nossa pouca sorte, o colega do Norte, por exemplo, acena com um Hernâni que, apesar de já ir a caminho dos 24 anos, é visto com grande margem de progressão. Talvez a mesma progressão de Tiago Rodrigues ou Ricardo Pereira, também adquiridos em Guimarães, mas que têm o handicap de não possuírem passaporte espanhol. Talvez por isso estejam a fermentar lentamente.
O colega do Norte emprestou os cromos de Ivo, Sami e Otávio, no que poderá ser considerada uma manobra inteligente, como todas as trocas de cromos que esse fulano faz.
Quem também saiu foi Opare, que se autoproclama o futuro melhor lateral esquerdo do mundo, o herói Kelvin, o empecilho Rolando e mais alguns da equipa B que nem o Luís de Freitas Lobo deve saber quem eles são.
Pior ainda é quando o colega novo-rico do Sul ostenta os seus novos brinquedos.
Mesmo que tenham perdido definitivamente Enzo ou a eterna esperança Jara, a chegada daquele miúdo com cara de ser pai do Maxi Pereira parece ser um enorme upgrade para o já faustoso plantel.
As saídas de Nélson Oliveira, Rui Fonte, Hélder Costa, Bebé, Rúben Pinto, Rochinha e mais alguns da equipa B que nem o Luís de Freitas Lobo deve saber quem eles são, foram compensadas com a chegada de mais uma série de jogadores com enorme potencial que, no rival, vêem abertas as portas para, em dois ou três anos, serem colocados no Valência ou no Corunha.
Daí se perceba porque Flávio Silva, dispensado pelo Sporting há pouco tempo atrás, preferiu dar este passo em detrimento do seu regresso ao clube.
Isto de um clube ter boas relações com empresário de renome e com boa capacidade de fazer circular a mercadoria faz do rival uma boa placa giratória, e escancara as portas do campeonato espanhol a qualquer um.

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