segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Adeptos, precisam-se

Num encontro com Godinho Lopes, há já uns largos meses, este manifestou o seu regozijo pela presença de uma criança onde decorria um determinado acto.
Vieram as palavras de circunstância, como não podia deixar de ser, e a afirmação do sportinguismo na nossa sociedade fez, num minuto, a agenda do momento.

Estamos a falar de uma criança, como poderíamos estar a falar de 4 ou 5, que isso não me deixaria entusiasmando.

Por momentos, talvez me tenham passado pela cabeça pensamentos, como..."olha que triste sina esta criança escolheu!".
Não digo isto pelos mais recentes resultados e pela inenarrável época que a equipa de futebol está oferecendo aos seus sofridos adeptos.
Digo isto pelo historial do futebol nos seus últimos 30 ou 40 anos, em que o Sporting tem andado travestido de candidato aos títulos maiores do nosso futebol.
Discute-se agora se o Sporting ainda é um grande ou se, em breve, não passará de uma simples miragem do clube que queria ser tão grande, quanto os grandes da Europa, mas o certo é que a curva descendente tem-se acentuado.
Depois das vitórias nos campeonatos que viraram o século, o jejum tem-nos colado o estômago às costas, mesmo que nos acenem com a conquista de algumas Taças como atenuante. Essas, sinceramente, só disfarçam a fome.
É como se nos dessem um, dois ou três pastéis de bacalhau, depois de estarmos 6 ou 7 dias sem comer.
O jejum que vivemos aproxima-se, a passos largos, dos 18 anos que entraram para o anedotário nacional mas, desta vez, a ausência de títulos coincide com os piores resultados que reza a história, e a época actual pode vir a envergonhar ainda mais, e de modo irreversível, cada um de nós.

Nesse referido encontro, Godinho Lopes reiterou a sua crença em que se faça uma "cruzada" sportinguista, apelando à imaginação para encontrar novos adeptos, junto dos mais jovens.
Claro está que todos nós sabemos que só há duas formas para converter alguém à nossa causa.
Pelos laços familiares ou, principalmente, pelas vitórias.
Por isso não é de estranhar que hoje tenha lido o desabafo de Litos, ex-jogador leonino e actualmente a treinar uma equipa em Moçambique.
Diz ele que:


"Normalmente, falo com a família muito cedo e, esta manhã, o meu filho de 12 anos, perguntou-me se podia mudar de clube. Isto deixa qualquer pai triste. Claro que, como sportinguista, vou tentar que os meus filhos não deixem de apoiar o Sporting que é o clube que eu também adoro".

"Estas situações estão a afectar as crianças que, depois, pedem para mudar para o FC Porto, por exemplo, porque é o clube que ganha mais vezes".

Pois, este será só um exemplo mediático de quem decidiu contar o seu dilema mas, certamente não faltarão exemplos por esse País ou...Mundo fora.
Devia ser possível fazer um levantamento de quantos adeptos teremos perdido nos últimos anos mas, a cada dia que passa, quer-me parecer que, ao contrário do que as estatísticas mais recentes dizem, o número de divórcios tem aumentado consideravelmente.
Sim, muitos estão a divorciar-se irremediavelmente do Sporting, e não há reconciliação possível, pois os traumas são enormes.
Continuo a considerar que a nossa grandeza não se resume ao futebol, mas deve-se sim à nossa implantação nacional, à tradição nas modalidades (que já teve também melhores dias) e a uma maneira diferente de ser e estar, no desporto.
No entanto, mesmo que este definhar não seja palpável no dia-a-dia, com a mediocridade recente corremos o risco de nos transformamos num clube regional, à imagem de um grande do nosso espectro desportivo, há umas décadas atrás.
Nada, portanto, que não seja reversível, mas deste modo estaremos a depauperar um legado de valor incalculável.
Godinho Lopes disse, mais recentemente, que depois de um ano zero, o presente é o de reestruturação para, no próximo ano, começar a ganhar.
Tem que explicar isto melhor, e com jeitinho, ao filho do Litos...e a muitos outros filhos, por esse País fora.









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