domingo, 27 de novembro de 2011

Orelhas a arder


Depois de uma semana de preparativos para o derbi espera-nos , no mínimo, outra semana de rescaldo do apaixonante duelo.
Desta vez, o Sporting-Benfica jogou-se com muito mais enfoque fora, do que dentro do terreno de jogo, por força das inúmeras tentativas de mexer com as emoções que este transmite.
Cada lado da barricada analisará e tirará as conclusões que lhe são mais próximas, mas penso que do nosso lado não restarão dúvidas em relação a muitas matérias.
Claro está que estas estarão sujeitas a diversas tendências e pontos de vista, dependentes da sensibilidade e conhecimento de cada um, mas gostaria de enfatizar alguns pontos.
A questão da já famosa gaiola de segurança, e os problemas que daí advieram, criaram uma cisão entre direcções que se diziam em sintonia ou, se quiserem, de harmonia institucional.
Porém, não me recordo de nenhum benefício que se tenha retirado, deste ou outro qualquer pacto ou cumplicidade com os outros chamados grandes. Nos últimos anos temos andado a reboque de um ou outro clube, mas acredito que o nosso verdadeiro caminho é o de trilhar o nosso próprio futuro.
Já tivemos anos de paz (podre) com o Porto, mas em que os resultados práticos foram a continuação da política expansionista dos portistas, tantas vezes a expensas nossas,  um aliado envergonhado, enfraquecido e esperançado em arrecadar algum dividendo. As raras aproximações ao rival de Lisboa também tiveram o mesmo fim, pois quando palmilhamos o caminho do sucesso, passamos de aliados a potenciais inimigos.
Porto e Benfica também coabitam sem ter relações institucionais porque ambos querem o poder, e porque a zona de interesse é comum... e esse poleiro só dá para um.
Penso que o jogo deste fim-de-semana serviu para clarificar, uma vez mais, que tudo é permitido para alcançar o sucesso, nem que para isso se tenha de enfraquecer ou arrefecer as alianças.
Não estive na controversa gaiola, mas desde já condeno as cenas que deram por encerrado o derbi. Acredito também nas declarações de Paulo Pereira Cristovão (pois ele esteve lá, ao contrário de muitos que comentam, no conforto dos seus postos) ao afirmar que as condições eram pré-históricas e sub-humanas. Pagar 22 euros para não aceder a alguns dos serviços básicos, para lá de deficientes condições de conforto e visibilidade, deveria dar direito a serem ressarcidos pelo clube da Luz. 
Convém também recordar que alguns dos adeptos sportinguistas chegaram aos seus lugares (para o caso de existirem) próximo do intervalo, o que denota que também a entrada dos apoiantes leoninos foi rodeada de incidentes. Resta saber se foram ou não intencionados, por forma a reduzir o já enfraquecido apoio previsto. Foi enfraquecido (com total legitimidade) pelo número de apoiantes a quem foi permitida a entrada  mas também nas condições e localização onde foram instalados, longe do campo e das câmaras de tv, o que acabou por conferir uma única cor a um espectáculo que deveria ser multicolor.
Até alguns comentadores que não podem ser conotados com o Sporting referiram a pouca sensibilidade (ou premeditação) de tal medida, mas nada disto, repito, justifica que tivéssemos dado ainda mais motivos para transformar o "réu" em vítima.
A escalada verbal era inevitável e, perante as acusações do Sporting, um dos assalariados do Benfica aprestou-se a fazer a defesa da honra, mas com evitáveis alusões ao fosso de Alvalade. É que isto de brincar com o que poderia ter sido uma tragédia está a tornar-se moda, para aqueles lados. Não se ter referido, em tom jocoso, ao very-light que matou um adepto sportinguista  já terá sido uma vitória.
Ao Sporting não interessa descer a este nível (mesmo que já tenha entrado no jogo) porque o Benfica está nas suas sete quintas, no que se refere a contra-informação, jogos de bastidores e comunicados.
O clube da Luz leva anos de avanço em relação ao Sporting, pois para lá dos frequentes conflitos com o Porto na troca de insultos, também no terreno optaram por atitudes mais frequentes a Norte, de que os célebres problemas no túnel, o apagão ou o súbito episódio do sistema de rega são exemplo e inovação. Por tudo isto, temos muito a aprender, ou talvez não, pois não quero ver o Sporting associado a este tipo de actos.

Resta saber o que a direcção do Sporting fará com todo este dossier mas, numa primeira abordagem, Paulo P. Cristóvão negou que estivesse em causa qualquer represália para a visita do Benfica a Alvalade, porque o Sporting se rege por normas diferentes, e tem por hábito saber bem receber.
Até esse encontro muita água passará por baixo da ponte, e sabemos como no futebol rapidamente se passa do 8 ao 80.
Para bem do futebol era bom que este episódio, assim como todas as réplicas associadas, rapidamente caíssem no esquecimento mas...os adeptos não sofrem da amnésia, conveniência ou alianças estratégicas pródigas nas direcções dos clubes.
Acredito que o ambiente em torno do próximo derbi será tão ou mais quentinho que este, mas espero que a tendência seja para a saudável rivalidade, que fazem deste o maior dos duelos históricos do nosso futebol.


1 comentário:

  1. Boas...

    De facto, independentemente do que se passou no Sábado à noite em pleno Estádio da Luz, com a vitória arrancada a ferros por parte dos comandados de Jesus, da excelente exibição Leonina e do incidente que acabou em incêndio, uma coisa é certa : O futebol Portugu~es precisa destes jogos e destas históricas equipas a discutirem titulos.
    Uma Liga com SL Benfica e Sporting a discutirem o titulo até ao fim será certamente uma liga mais emocionante e emotiva.

    Abraço

    Mattos...paixaodabola.blogspot.com

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