A Taça de Portugal é reconhecidamente pródiga em surpresas, mas também
é uma competição que permite a alguns jogadores e equipas fazer o jogo da sua
vida.
Não sei se terá sido esse ontem o caso, mas a verdade é que tenho lido
muitos sportinguistas agradados com a exibição do central vizelense Talocha.
Alguns até propunham, meio a sério meio a brincar, a troca de Sarr ou
Maurício (ou por que não os dois?) pelo central goleador.
Convenhamos. Mas que equipa de topo é que contrataria um jogador com
essa alcunha?
Ainda se João Silva optasse pelo nome que consta no registo, poderia
ser um caso a pensar, mas com este cognome passará a vida a jogar em batatais e
campos de regadio.
Podia fazer como o lampião Bebé, que passou a chamar-se Tiago sem que
isso, no entanto, tenha significado alguma melhoria no seu inconsequente
futebol.
Não deixa no entanto de ser significativo o número de potenciais olheiros
com visão estratégica de futuro.
Este tipo de aparições meteóricas faz-me sempre recordar o fenómeno
Ivo Damas. O então jovem jogador marcou 3 golos aos corruptos, também para os
1/8 final da Taça de Portugal, e passado uns dias vestia de verde-e-branco.
Graças a essa façanha, esperava-o um contrato de OITO anos, talvez
porque viram potencial em três remates à baliza. O seu agente era Jorge Mendes,
provavelmente a dar os primeiros passos na compra e venda de produtos em
segunda mão, e talvez se perceba como é que impingiram esse cromo ao clube.
Essa estrela cadente teve o seu momento mais brilhante nesse jogo, mas
a sua luz apagou-se passado pouco tempo, e até à reforma no pontapé na bola
andou a passear classe por clubes de terceira apanha.
Mas se Ivo Damas foi uma estrela cadente, o jogador do Vizela pode ser
outro fenómeno astronómico. Podia ser baptizado de Cometa Talocha, que passa a cada 75 anos pela
terra.
No entanto, devemos reconhecer que o rapaz teve arte para aproveitar as
mãos de manteiga de Boeck e, com o seu 1.80, ganhar nas alturas ao 1.96 de Sarr
e ao 1.90 (mais os braços) do mesmo Boeck.
Mas a história de Ivo Damas também revela outras facetas do agora
agente comercial do ramo automóvel. O ex-jogador demonstra até que pode ter
futuro em filosofia, quem sabe num curso tirado na Sorbonne, em Paris.
Disse ele em tempos que”… uma coisa é ir ao treino, outra coisa é
treinar.”, referindo-se a alguma falta de aplicação do seu tempo passado em
Alvalade.
Este profundo pensamento pode ser mais que isso. Pode ser a constatação
da realidade leonina durante décadas. Já em tempos Rui Jorge tinha manifestado
a sua estranheza pela falta de profissionalismo que encontrou quando chegou a
Alvalade. Ele, que trazia uma cultura desportiva bem mais exigente.
Agora vou deixar Damas e Talocha de parte, e voltar a recordar esse
jogo da Taça de Portugal de 1998.
A equipa portista, tal como ontem o Sporting, viu-se e desejou-se para
vencer uma equipa do 3º escalão.
O jogo foi apitado pelo inveterado portista Martins dos Santos.
Também este perfumou o futebol português durante anos a fio e,
infelizmente, não foi uma estrela cadente com uma aparição fugaz.
O porto venceu por 4-5, após prolongamento, com grande influência no
resultado final.
O clube azul e branco acabou por vencer essa taça, demonstrando que
por linhas tortas se tem escrito a história do futebol português nos últimos 40
anos.
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