quinta-feira, 5 de julho de 2012

Chhetri vs Khadafi


Sunil Chhetri ganhou ontem aos pontos, nas conversas de fim de tarde dos sportinguistas e outros interessados pela temática do pontapé na bola.
Tive oportunidade de fazer uma pequena crónica satírico-humorística logo que tive conhecimento da vinda do jogador, mesmo que alguns sportinguistas demasiado arreliados com a vida se tenham sentido logo incomodados com o facto de podermos rir de nós próprios, num sentido lato.
Hoje, mais refeito da surpresa, continuo com a convicção (para não dizer certeza) que tudo não passa de uma jogada de marketing, esperemos que bem sucedida, mesmo que se esteja a jogar também no campo dos sentimentos. É que o jogador em causa vem imbuído de um espírito de missão e amor-próprio que pouca afinidade deve ter com a vertente mercantilista do negócio.
Esta especiaria que irá desembarcar na equipa B faz abrir o apetite a alguns mais optimistas mas o histórico do jogador não é para grandes ilusões.
Já ontem referi que a idade do jogador é um obstáculo, mesmo que os 28 anos feitos quando começar a competir sejam a idade ideal para um futebolista com um percurso normal. No caso de um atleta sem experiência competitiva de relevo será pouco provável que o vejamos ao nível pretendido por todos nós. O currículo do jogador conta com passagens por uma série de equipas indígenas bem como uma experiência pouco sucedida nos Estados Unidos, onde só fez dois jogos com os Kansas Wizards, bem como alguns testes que realizou sem sucesso no Coventry, Queens Park Rangers e Glasgow Rangers. 
Aliás, o Tio (prof.) Neca,  treinador com experiência após passagem por terras do Oriente já teve oportunidade de se referir ao negócio:

"Se ele tivesse 20 ou 22 anos, poderia ser, no futuro, um jogador com potencial para a equipa principal do Sporting. No entanto, com 27 anos, penso que já queimou algumas etapas e, assim, não terá hipótese de ser mais-valia para a equipa principal leonina.Contudo, o futebol é composto por duas vertentes. Para além da desportiva exista a comercial e, nesta segunda, o Sporting apostou bem".

Estas apostas com vertentes comerciais não são nenhuma inovação, e a ideia de Futre no chinês já tinha como base experiências bem sucedidas por clubes ingleses e italianos.
Há muitos exemplos nos quais poderia pegar mas o mais curioso, por ter sido um jogador contratado sem qualquer intuito desportivo foi o de Saadi, filho do ditador líbio Muammar Khadafi.
O jogador talvez não se tenha valido do apelido para conseguir contrato com o Perugia, mas mais provavelmente do dinheiro que abundava na família e estado líbio.
De clubes quase desconhecidos da capital Tripoli, Saadi Khadafi deu o salto inesperado para o Perugia, na condição de jogador/investidor. O dinheiro levou-o também à Udinese e Sampdoria.
Vidigal, que jogou com o tosco jogador na Udinese na época de 2005/2006 chegou a contar algumas excentricidades:  

"Um dia, estávamos a treinar quando chegou um helicóptero e aterrou mesmo ali. Era para o levar a uma festa no Mónaco com o príncipe".

O filho de Khadafi vivia rodeado de seguranças. Ficavam à porta do hotel nos estágios, paravam o trânsito para a equipa passar e não o deixavam dormir com nenhum colega durante um estágio.
Saadi não teve uma época brilhante ao lado de Vidigal. Apenas por uma vez foi utilizado na Serie A italiana, quando entrou aos 80 minutos do jogo com o Cagliari.
Este exemplo de um não-jogador não visa menorizar o valor de Chhetri que, porventura, poderá ser um pouco maior que o de Khadafi.
Serve tão só para ilustrar a política que por vezes tem de ser seguida por alguns clubes, por forma a driblar algumas dificuldades.
Acredito que fará parte do contrato que o indiano se vá sentar algum dia no banco do Sporting ou, inclusive, jogar na Taça da Cerveja, dado que o vencedor até já está encontrado.
A aposta num atleta do país do cricket e da chamuça pode redundar num fracasso dada a pouca visibilidade do futebol naquele país mas, quem sabe, pode acontecer o contrário e, no negócio, no empreendedorismo pode estar o segredo.



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